Última alteração: 14-06-2017
Resumo
Resumo
A técnica de Construção de Vida possui sua base no modelo Life Design. Este por sua vez, aborda uma evolução nos processos dirigidos ao desenvolvimento profissional, colocando as histórias de vida em um plano nunca antes tão considerado. A diferença nesta concepção de construção de vida está justamente em reconhecer e investir nas narrativas de vida como instrumentos para o autoconhecimento e empoderamento das pessoas. Para o desenrolar do processo são utilizados instrumentos e técnicas psicológicas. A atividade é realizada por meio de sessões individuais, tendo como participantes, alunos e alunas da Universidade Luterana do Brasil, campus Torres. A técnica de Construção de Vida é realizada através de oito encontros semanais. Ao final do processo, cada participante recebe um parecer descritivo com o resultado do mesmo.
Palavras chave: escolha profissional; ensino superior; gestão de carreiras.
introdução
O mundo de trabalho sempre apresentou características de incertezas e instabilidade aos profissionais e aos futuros profissionais. Cada vez mais exige-se flexibilidade para superar os desafios que existem no mercado de trabalho, o que nem sempre é justo e ou ético. A recente crise política brasileira produz mais insegurança que também se reflete drasticamente no âmbito do trabalho, ampliando o leque de incertezas e fragilizando escolhas em curso.
Diante deste cenário, é comum que os universitários apresentem preocupações referentes ao seu futuro profissional. São apreensões que vão desde o ingresso na universidade até o termino da formação, passando algumas vezes pela decisão de cancelamento do curso. Ante essas circunstancias, o mundo do trabalho docente também tem flexibilizado e buscado soluções que, em tempos de crise econômica, necessitam ser criativas.
Uma, entre outras formas de enfrentar a crise e a evasão discente tem sido o investimento acadêmico em projetos que trabalham a orientação de carreiras.
Partindo da nossa experiência, vamos abordar brevemente o projeto que desenvolvemos atualmente no Curso de Psicologia ULBRA campus Torres.
No ano de 2010, buscando atender as necessidades discentes, iniciamos um projeto de Coaching acadêmico com os alunos e alunas do curso. Na ocasião trabalhamos individualmente em grupos de alunos, obtendo bons resultados na avaliação destes. Dúvidas e angústias puderam ser abordadas evitando um aumento de evasão de discentes.
Com o crescente aumento da demanda de alunos e alunas buscando orientação, constatou-se a necessidade de maiores investimentos na área. Nesta época criamos um projeto denominado: Cinema, Papo e Profissão (CPP), extensão universitária que realiza Orientação Profissional nas escolas e no campus. Passamos a atender grupos de alunos e alunas do terceiro ano do ensino médio das escolas locais e regionais, mas continuamos sentindo necessidade de oferecer mais atenção ao nosso público interno discente.
O projeto CPP cresceu e suscitou novos investimentos, possibilitando o contato com a técnica do Life Design e da Construção de Vida, caminhando naturalmente para a atual proposta. O presente projeto visa conhecer e integrar o método de construção de vida como uma nova experiência em aconselhamento/gestão de carreiras junto ao curso de Psicologia da Ulbra Torres.
Atualmente nos encontramos em fase de pesquisas sobre o tema e seguimos incrementando as orientações profissionais para alunos, alunas do curso, do campus e da comunidade em torno da ULBRA Torres. Nosso objetivo é migrar para a técnica de Gestão de Carreiras e Construção de Vida, embora não se pretenda abandonar completamente o CPP para o ensino médio das escolas locais.
Passamos agora a trabalhar conceitualmente com o Life Design. Este surge como uma evolução nos processos dirigidos ao desenvolvimento profissional, colocando as histórias de vida em um plano nunca antes tão considerado. Neste tópico os principais autores, Super (1980) e Savickas (2005), salientam a importância da integração das escolhas profissionais com o processo de vida dos sujeitos, mostrando que as eleições sempre são, de um modo ou de outro, realizadas nesta perspectiva. A diferença nesta concepção está justamente em reconhecer e investir nas narrativas de vida como instrumentos para o autoconhecimento e empoderamento das pessoas.
Super (1963, citado por MAGALHÃES, 2010, p. 274), menciona que: “o indivíduo interpreta e organiza sua experiência, traduzindo-a em termos vocacionais, para então buscar a realização dos autoconceitos formulados”.
De acordo com Magalhães, Bendassolli (2013, p. 435):
[...] o trabalho faz parte da construção de nossa identidade, pois, ao mesmo tempo em que ele nos permite ter um lugar ou status social, ele também nos possibilita organizar nossas narrativas pessoais acerca de quem somos [...].
Assim surge a carreira que pode ser descrita da seguinte forma: ”[...] a carreira pode ser considerada um processo contínuo de busca, de construção e de reconstrução de significado”. (MAGALHÃES, 2010, p. 274).
As carreiras, então, num mundo em transição e instável, se constituem como construções psicossociais relacionais que, antes de se tornarem práticas legitimadas socialmente como carreiras (discursos legitimados de trajetórias de vida de trabalho), seriam narrativas sobre o que se faz. (RIBEIRO, 2014, p. 138).
Quanto ao entendimento de sua dinâmica, Magalhães e Bendassolli (2013, p.440) enfatizam: “[...] temos de observar o que vem antes de cada experiência e de que modo esse passado relaciona-se com o presente ou mesmo com o futuro”.
Como é possível constatar, a carreira assume um papel organizador nas histórias de vidas, mas exige certa flexibilidade na sua construção. Ela é ao mesmo tempo construída e construtora das narrativas de cada sujeito durante o desenvolvimento do ciclo vital.
A história de vida é uma das modalidades de estudo em abordagem qualitativa. De acordo com Deslandes (2008), este método permite caracterizar a prática social de um grupo, seus valores, sua cultura e suas verdades.
“O processo de intervenção implica em que o cliente conte suas histórias e, então, reflita sobre estas narrativas a fim de encontrar significado, formular novas intenções e planejar atividades exploratórias.” (DUARTE et al, 2009, p.404).
Esse modelo de intervenção permite que o sujeito conheça e reflita sobre seus autoconceitos. Nesta perspectiva:
Pessoas constroem carreiras quando fazem escolhas que expressam seus autoconceitos. O autoconceito também é construído através de experiências específicas a que as pessoas se expõem nos contextos em que vivem. Abordagens narrativas do aconselhamento de carreira apoiam-se nestas experiências enquanto um recurso significativo para posterior planejamento e construção da vida. (DUARTE et al, 2009, p. 396).
Ao participar do projeto:
O sujeito apresenta movimentos de oscilação e variação nas perspectivas de significação de sua experiência, explora sua história de vida em busca de motivos e valores fundamentais que irão guiar seu desenvolvimento, pois se encontra na antessala de uma transformação. (MAGALHÃES, 2010. p. 274).
O futuro é construído através de sua trajetória ao articular eventos passados e presentes. Logo:
A trajetória possibilita a organização espaço-temporal, sendo uma narrativa articuladora dos eventos da vida que confere significado e coerência à vida das pessoas, bem como possibilita o contato com suas construções relacionais, estratégias de articulação espaço-temporais e temas e enredos da vida mais frequentes, se configurando num guia relevante para a construção constante de si nos processos de coconstrução com o mundo do trabalho através dos projetos de vida. (RIBEIRO, 2014, p. 125).
Nesse sentido, histórias de vida, por mais particulares que sejam, são sempre relatos de práticas sociais: das formas com que o indivíduo se insere e atua no mundo e no grupo do qual ele faz parte. Assim, o projeto pretende auxiliar os(as) universitários(as) em suas dúvidas relacionadas a sua escolha profissional.
METODOLOGIA
As sessões são realizadas na modalidade individual, com frequência semanal, sendo um total de oito encontros, com duração média de uma hora cada. Estes são desenvolvidos com enfoque nas narrativas de vida, da (a) participante. Também se utiliza como método auxiliar, testes psicológicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o ano letivo de 2016 foram realizados oito atendimentos. Temos como meta, a ampliação de atendimentos para o ano de 2017. Observa-se um aumento na quantidade de alunos e alunas dos diferentes cursos da nossa universidade que procuram atendimento com questões referentes à escolha profissional e carreira. Sabemos que há um senso comum sobre a associação entre ensino superior e sucesso profissional, o que não é necessariamente comprovado. Todavia, fica evidente a mudança nas relações entre os alunos e suas carreiras, no sentido de que os discentes buscam mais objetivamente obter melhor desempenho para o mercado de trabalho. Se antes havia o desejo de aperfeiçoamento acadêmico, aprimoramento cultural e refinamento cognitivo, hoje temos que responder efetivamente sobre os caminhos mais seguros para uma colocação no mercado de trabalho.
Diante do acréscimo da demanda de alunos e alunas que buscam orientação, logo se observa a necessidade de ampliar os investimentos na área de Gestão/Orientação de Carreiras. Este é um serviço de extrema importância e, portanto, sua oferta na universidade além de auxiliar os alunos e as alunas a refletirem sobre suas escolhas e seu futuro profissional oferece a eles e a elas a aproximação com a prática de Gestão/ Orientação de Carreira.
CONCLUSÕES ou CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mercantilização do conhecimento acadêmico deu impulso à cultura da competitividade, entendida como a condição chave de sucesso em um mundo norteado pelo capitalismo. Divulga-se amplamente a ideia de que é necessário competir para vencer e alcançar os objetivos de vida. Novamente vemos a ideia do sucesso acoplada ao desempenho profissional e, consequentemente, ao que se é capaz de ganhar em termos de dinheiro.
Ocorre que, embora sejam academicamente bem-sucedidos e articulados nas artes da competição, os jovens em geral não se sentem satisfeitos ou seguros, ao perceberem-se vazios de sentido e de significado no que se refere as escolhas profissionais. Desta percepção nasce a angústia e a necessidade de ajuda profissional especializada, a qual pode ser encontrada no processo do Life Design. A técnica permite que o sujeito refaça os caminhos e possa analisar, avaliar e se for o caso, mudar a direção do que fora construído em termos acadêmicos e até profissionais. O que passa a ser mais instigante nesta técnica é maior participação ativa do sujeito no processo.
Na prática estamos ainda trabalhando dentro do modelo de orientação profissional, enquanto nos abastecemos do conhecimento necessário para fazemos a transição total para o modelo do Life Design.
Referências
DESLANDES, Suely Ferreira Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade/ Suely Ferreira Deslandes, Romeu Gomes, Maria Cecília Tereza Minayo (organizadora). 27. ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
DUARTE, Maria Eduarda et al. A construção de vida: um novo paradigma para entender a carreira no século XXI. Revista Interamericana de Psicología/Interamerican Journal of Psychology. 2009, Vol. 44, Num. 2, pp. 392-406.
MAGALHÃES, Mauro de Oliveira. O uso de narrativas de vida na orientação de carreira. In: LEVENFUS, Rosane Schotgues; SOARES, Dulce Helena Penna. (col). Orientação Vocaional Ocupacional. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 274-286.
MAGALHÃES, Mauro de Oliveira; BENDASSOLLI, Pedro F. Desenvolvimento de carreiras nas organizações. In: BORGES, Livia de Oliveira; MOURÃO, Luciana. (orgs) O trabalho e as organizações: atuações a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 433-464.
RIBEIRO, Marcelo Afonso. Carreiras: novo olhar socioconstrucionista para um mundo flexibilizado. Curitiba: Juruá, 2014.
SUPER, D. A Life-span, Life-Space Approach To Career Development. Journal of Vocational Behavior, 13, 282-298, 1980.
SAVICKAS, M. L. The theory and practice of career construction. In: S. D. Brown & R. W. Lent (Orgs.),Career development and counseling: Putting theory and research to work. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc. XIV, 42-70, 2005.