Eventos ULBRA, II JORNADA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE

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GRUPOS DE GESTANTES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Andressa dos Santos Schoen, Cibeli de Souza Prates

Última alteração: 06-03-2018

Resumo


Introdução: A saúde da mulher tem sido um campo de grande preocupação e discussão ao longo de várias décadas (1). Neste contexto, o Ministério da Saúde (MS) visando ampliar o acesso à saúde integral e humanizada da mulher, no ano de 2004, elaborou a Politica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Esta politica reflete o compromisso em programar ações em saúde da mulher, garantindo seus direitos e reduzindo agravos por causas preveníveis e evitáveis, enfocando principalmente a atenção obstétrica, o planejamento familiar, a atenção ao abortamento inseguro e o combate à violência doméstica sexual. Ainda com o intuito de implementar uma rede de cuidados à saúde da mulher,  o MS também criou em 2011, a  Rede Cegonha, a qual apresenta um conjunto de iniciativas que envolvem mudanças no processo de cuidado à gravidez, ao parto e ao nascimento. Esse programa busca oferecer assistência do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o planejamento familiar, da confirmação da gravidez, do pré-natal, do parto e até os 2 anos de vida da criança. Outra estratégia que vem sendo bastante resolutiva quando falamos em cuidado da saúde da mulher e da gestante é a educação em saúde, ação em que o conhecimento científico sobre o processo saúde-doença alcança os usuários através dos profissionais que são capazes de promover mudanças culturais e implementação de hábitos saudáveis. Sob esta perspectiva, a gravidez é o momento em que a mulher está mais disposta a receber e assimilar informações sobre o desenvolvimento saudável da gestação e do bebê. Sua responsabilidade materna gera um cenário apropriado para estabelecer um comportamento preventivo, abrindo um espaço precioso para os grupos de educação em saúde. Este é o melhor momento para promover a saúde e prevenir agravos. O desenvolvimento do grupo de gestantes é considerado recurso importante para promover o atendimento individualizado e integral das necessidades da mulher grávida, seu parceiro e demais pessoas envolvidas. Estes grupos são desenvolvidos com a finalidade de complementar o atendimento realizado nas consultas, melhorar a aderência das mulheres aos hábitos considerados mais saudáveis, diminuir a ansiedade e medos relativos ao período gravídico-puerperal. Na saúde coletiva, o objetivo do trabalho com grupos é o desenvolvimento pessoal e social dos participantes, buscando autoconhecimento e reflexão do processo saúde-doença em nível individual e na coletividade. Objetivos: investigar o que existe na literatura brasileira sobre a importância dos grupos de gestantes na Atenção Básica, bem como verificar as dinâmicas e atividades utilizadas durante os encontros para acolher e motivar as participantes e também conhecer a atuação e importância do enfermeiro frente a estes grupos. Metodologia: trata-se de uma revisão bibliográfica com busca de artigos publicados de 2006 a 2016, em três bases de dados: SciELO, LILACS e BDENF, por meio dos descritores: grupos, gestantes, educação em saúde, enfermagem e Atenção Primária à Saúde. Foram encontrados 5173 artigos, sendo selecionados 15 por responderem ao objetivo proposto e por atenderem os critérios de inclusão. Como critérios de inclusão foram utilizados: artigos em português (Brasil), que estivessem disponíveis em texto completo, gratuitamente, datados de 2006 a 2016, com os descritores citados acima. Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos e de revisão, monografias, teses, artigos em línguas estrangeiras, repetidos e que não contemplassem a temática desta revisão. Para a análise foi feita uma leitura exploratória, seletiva, analítica e a interpretação dos materiais em questão. Após análise de dados dos artigos selecionados para a revisão bibliográfica, organizamos a discussão em três categorias: Importância da realização dos grupos de gestantes durante o pré-natal; Temas e dinâmicas utilizadas nos grupos de gestantes e Atuação do enfermeiro nos grupos de gestantes na Atenção Primária à Saúde. Resultados: após a análise dos artigos, encontramos como resultados na categoria 1, a qual trata sobre a importância da realização dos grupos de gestantes durante o pré-natal,  que a gestação e seu contexto são caracterizados por diversos sentimentos, dúvidas, anseios, medos, emoções, angústias e também por mudanças biopsicossociais e culturais. Diante disso, faz-se necessário que as mulheres tenham um acompanhamento integral e de qualidade para além das mudanças físicas que acontecem no seu corpo, a fim de que possam ser escutadas e esclarecidas sobre tudo que as aflige e vivenciem esse momento da melhor forma possível, tornando-se ativas nesse processo. Na história da saúde pública no Brasil, a introdução do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), no ano de 1983, ampliou o elenco de ações de saúde destinadas à parcela feminina da população, destacando a atenção pré-natal pelo seu impacto e transcendência no resultado perinatal. A assistência pré-natal constitui-se em cuidados, condutas e procedimentos visando promover a saúde do binômio materno-infantil. O acompanhamento deve ser iniciado o mais precocemente possível, ainda no primeiro trimestre. Essa assistência prestada durante o pré-natal não pode se restringir apenas às ações clinico-obstétricas, pois há todo um contexto característico do período gestacional em volta da mulher que precisa ser assistido, reconhecido e aprofundado pelos profissionais de saúde que a acompanham, buscando atendê-la e assisti-la integralmente. Diante do exposto, de modo a complementar e subsidiar a assistência oferecida nas consultas de pré-natal, e com o objetivo de tornar eficaz a qualidade dos serviços prestados pelas Unidades de Saúde, surgem os grupos de gestantes, os quais podem proporcionar discussões que envolvam vários componentes afetivos, possibilitando um clima de sensibilização para os aspectos relativos ao ciclo gravídico-puerperal e à subjetivação das informações, bem como uma vivência da gestação e da maternidade. Outro fato a destacar é que o grupo ajuda a aproximar e concretizar situações distantes como o pós-parto, tais como, os cuidados com a mãe e com o recém-nascido e a prática do aleitamento. Os encontros também oferecem subsídios para que os participantes reflitam sobre diversas possibilidades, condutas e oferta de cuidados implicadas no nascimento, assumindo, desta forma, o protagonismo deste processo. Por estes motivos esses grupos são considerados a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação, em que informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres, parceiros e profissionais de saúde, estimulando também a presença e participação do pai no pré-natal e nos encontros. Segundo o Ministério da Saúde, o desenvolvimento do grupo de gestantes é considerado um recurso importante para promover o atendimento individualizado e integral das necessidades da mulher grávida, de seu parceiro e das demais pessoas envolvidas. O grupo dá a possibilidade de manifestação de dúvidas e dificuldades de cada um, pois os participantes podem dizer seus problemas e refletir sobre eles, tendo ideia das situações futuras da gestação e mesmo daquilo que ocorrerá após ela. Essa estratégia de trabalho permite a integração de profissionais e gestantes, constituindo um momento de compartilhamento de experiências, fortalecimento de conhecimento e esclarecimento de duvidas. No que se refere a categoria 2 que trata sobre os temas e dinâmicas utilizados nos grupos de gestantes, os estudos trazem que dinâmicas de grupo constituem um valioso instrumento educacional que pode ser utilizado para trabalhar o ensino e aprendizagem quando opta-se por uma concepção de educação que valoriza tanto a teoria como a prática e considera todos os envolvidos neste processo como sujeitos. Embora se utilizem de técnicas diferentes, as atividades nos grupos de gestantes, via de regra, procuram: proporcionar a gestante informação necessária sobre a gravidez, o parto e o recém-nascido, conter a ansiedade e o medo transmitidos de mães para filhas, para que a dor física não seja ampliada pela angustia, reduzir ao mínimo a dor, recorrendo de respiração e relaxamento, ensinar a colaborar com o próprio corpo para que tudo corra da forma mais fácil e natural possível, proporcionar o encontro com outras gestantes, informar os futuros pais, incentivando-os a serem participativos em todo processo e apresentar à mulher os ambientes de interação e de trabalho de parto. As vivências dentro dos grupos são fundamentais para o crescimento dos profissionais e informação das gestantes assistidas. Dessa forma, abordar as vantagens e as dificuldades que podem ocorrer durante a gestação, considerando os conhecimentos prévios e as expectativas das gestantes, os seus sentimentos, pode levá-las a se sentirem mais seguras para superar as possíveis adversidades do período gestacional. Dentre os principais temas abordados destacam-se: a importância da realização do pré-natal, modificações corporais, mitos e verdades sobre a gestação, tipos de parto, alivio da dor e medidas de conforto, cuidados com o recém-nascido, amamentação. A entrega de materiais complementares, como folders, também foi citada como uma estratégia de fixação das dinâmicas realizadas nos encontros. Ao realizarem os grupos de gestantes os profissionais devem saber inovar, pensar em estratégias e temas que chamem a atenção delas e de seu companheiro e para isso o profissional deve conhecer as necessidades e anseios dessas usuárias do sistema, podendo assim proporcionar encontros que se tornem agradáveis aos quais elas compareçam por vontade própria e não por obrigação. Como resultados na categoria 3 a qual aborda a atuação do enfermeiro nos grupos de gestantes na atenção primária à saúde, os estudos mostram que as estratégias grupais de educação em saúde para gestantes têm sido utilizadas pelos enfermeiros, principalmente na atenção básica, como alternativa para as práticas assistenciais e educativas. A enfermagem apresenta na ação educativa um de seus principais eixos norteadores nos vários espaços de realização de sua prática, especialmente nos serviços de atenção primária à saúde. O enfermeiro é habilitado e capacitado apara cuidar do usuário e de sua família, levando em consideração as necessidades curativas, preventivas e educativas em saúde. Muitas pesquisas apontam a sua importância no processo de trabalho de enfermagem, uma vez que articulam varias dimensões de cuidado. Associar o cuidado com as ações educativas visa compartilhar práticas e saberes em uma relação horizontalizada, em que o enfermeiro exerça seu papel de cuidador e educador, agregando o seu saber/fazer popular. Nesta perspectiva, o cuidado de enfermagem no campo obstétrico abre espaço para a construção de saberes a partir das práticas educativas nos grupos de gestantes, indo ao encontro das diretrizes da política Nacional de Humanização de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Em grande parte dos estudos analisados observa-se a preocupação de enfermeiros com a participação das gestantes e familiares como agentes ativos no processo, percebendo as ações de educação em saúde nos grupos como oportunidade para desenvolver nas pessoas a consciência acerca da importância da corresponsabilização de todos os envolvidos. Os autores afirmam que o enfermeiro é um agente fundamental na construção de um fazer em saúde, e, através da ferramenta dos grupos coletivos para gestantes, o profissional pode compreender as necessidades das usuárias, convocando-as para a construção de alternativas viáveis para solucionar problemas que venham a surgir, assim é construído um processo de trabalho em saúde comum entre usuárias e profissionais. A educação é uma atividade inerente à enfermagem, a qual contribui para a promoção da saúde, prevenção de agravos e encaminhamentos para outras atividades nessa área. Conclusão: Os estudos analisados na categoria 1 demonstraram que a participação em ações de grupos por parte dos indivíduos envolvidos em todo o processo da gestação, tem se mostrado de grande valia, pois trazem aspectos terapêuticos e  oferecem suporte às participantes e seus familiares. Os encontros de grupos permitem às gestantes a possibilidade de compartilhar sentimentos, expor suas dúvidas, angústias e alegrias, há trocas de experiências que proporcionam o amadurecimento e aprendizado. Os momentos que elas vivenciam juntas possibilitam o conhecimento, a compreensão e a identificação de ações que podem transformar sua realidade. No que diz respeito aos temas dos grupos de gestantes, a análise dos artigos da categoria 2 nos permite afirmar que os assuntos mais abordados nos encontros são amamentação, consultas de pré-natal, tipos de parto, cuidados com o recém nascido, mitos e verdades sobre a gestação e modificações corporais no período gestacional. Quanto às dinâmicas utilizadas destacaram-se recursos audiovisuais, teatros, crochê e uso de bonecos. Ao analisar os artigos da categoria 3, fica evidente que o enfermeiro, durante o pré-natal, busca contribuir para a promoção da saúde da gestante e do bebê, através de informações e reflexões acerca do período gravídico-puerperal. A participação do enfermeiro nos grupos de gestantes é muito importante, pois são profissionais educadores que devem atuar com ênfase no acolhimento, detecção precoce de situações de risco e na educação permanente em saúde. Por isso, há a necessidade desses profissionais ampliarem a assistência à gestante para além das consultas de enfermagem individual, propiciando o acolhimento de suas ansiedades e temores associados à gestação. A partir dessa revisão bibliográfica, conclui-se que a realização dos grupos de gestantes nas UBS é uma estratégia de grande valia para o complemento das consultas de pré-natal, possibilitando o aprendizado e a troca de experiências e conhecimentos relacionados a todo período do ciclo gravídico-puerperal. O contato com outras gestantes deixam a mulher e seu companheiro mais seguros e confiantes, pois eles conseguem enxergar que outras pessoas também compartilham os mesmos sentimentos, medos e expectativas. Além disso, o uso de dinâmicas e a escuta ativa permite que as gestantes se expressem, tornando-se ativas e protagonistas neste processo, o que certamente irá motivá-las a continuar participando dos encontros. Por fim, para que consiga exercer essa função com êxito, o enfermeiro precisa estar capacitado e motivado para realizar os grupos em sua UBS, deve conhecer a população de mulheres grávidas de abrangência da sua área para acolher de forma adequada e qualificada essas gestantes. Com isso, irá estabelecer um elo de confiança entre profissional e usuária e, consequentemente, estará contribuindo para a melhoria do desfecho da gestação e do nascimento, produzindo melhores indicadores de saúde.