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NÚCLEO DE APOIO ÀS ESCOLAS (NAE): DIÁRIO DE CAMPO E INTERVENÇÃO REALIZADO JUNTO AO GRUPO DE PAIS
Raquel Beatriz Groos, Taís baumbach boschmann, Amanda Diehl Hoenisch, Luís Henrique Ramalho Pereira

Última alteração: 10-09-2018

Resumo


Introdução

O Núcleo de Apoio às Escolas (NAE) foi projetado com o intuito de auxiliar as demandas escolares da região oeste de Santa Maria, visando identificar e possibilitar um atendimento especializado para crianças e adolescentes com problemas emocionais e de aprendizagem. Depois de encaminhadas as demandas dessas escolas, o NAE acolhe as crianças, adolescentes e responsáveis em entrevistas de triagem, onde são preenchidos os devidos formulários, podendo ocorrer no máximo cinco encontros individuais, que são realizados semanalmente, onde procura-se entender a demanda do sujeito e também de seus responsáveis estabelecendo desta forma o contrato terapêutico. Após a realização das triagens as crianças, os adolescentes e os responsáveis são encaminhados para grupos terapêuticos, Grupo de Crianças e o Grupo de Pais, onde são realizadas discussões acerca dos casos, atividades lúdicas e trocas de experiências, buscando desta maneira realizar uma intervenção junto a essas famílias. O NAE também oferece Acompanhamento Terapêutico (AT), objetiva oferecer apoio às escolas e seus colaboradores, possuí um projeto de Prevenção à Violência que deverá ser efetivado, o Projeto Pipocando que tem por objetivo levar a arte até as escolas, oferece treinamento em palestras sobre ATs, Gestão de Pessoas e são realizadas reuniões e supervisões semanais com estagiários e responsáveis.

O trabalho desenvolvido com grupos de famílias possibilita aos participantes identificar, nomear e compartilhar suas emoções. Nesses momentos, há troca de experiências, com histórias compartilhadas que despertam no indivíduo a percepção de que existem outras formas de ver o mundo. (Osório; Valle; Gusmão, p.39 – 2015).

A psicoterapia de grupo, ao contrário da psicoterapia individual não é muito precisa quanto ao seu início, sendo possível se deparar com divergências de opiniões também sobre seus pioneiros. A literatura dos Estados Unidos do Norte (EUA) atribui a Joseph H. Pratt a criação da psicoterapia de grupo. Pratt trabalhava como clínico geral, no ambulatório de Massachussets General Hospital (Boston). Em julho de 1905 iniciou programa de assistência a doentes de tuberculose, incapazes de arcar com os custos de internação. (Bechelli; Santos, 2004). Reunia em torno de 15 a 20 pacientes semanalmente para que pudessem trocar experiências e relatar o que estavam passando, desenvolvendo desta forma um contato maior com os pacientes.

Ainda segundo Bechelli; Santos (2004) Pratt começou seus grupos com um propósito educacional, com o intuito de demonstrar aos seus pacientes a melhor forma de cuidar de si e da doença, sendo possível perceber que eles reconheciam no outro seu próprio sofrimento, o que contribuía para uma certa sensação de melhora. Assim, o modelo de Pratt foi adotado por diversas localidades dos Estados Unidos da América, passando a ser utilizado não somente em pacientes com tuberculose, mas também com doenças mentais, sendo utilizada para transmitir instruções e conselhos, oferecendo apoio a grupos de pacientes que apresentavam os mesmos sintomas, doenças ou problemas semelhantes.

Objetivos

O presente trabalho tem por finalidade realizar uma intervenção no Grupo de Pais, juntamente aos responsáveis no intuito de buscar uma relação familiar mais saudável, maior interação, auxiliar na busca por mais proximidade entre esses sujeitos e um entendimento melhor com esses jovens, demonstrar que podemos auxiliar um ao outro e que essa troca de experiências pode trazer benefícios tanto para as relações familiares quanto na escola e no meio social.

Palavras-chave: grupo de pais, intervenção, psicoterapia de grupo

 

Método

O trabalho de intervenção sobre o qual foi desenvolvido este artigo se dirige ao Grupo de Pais que ocorre semanalmente com duração de 1 (uma) hora, participam os responsáveis legais pelas crianças e adolescentes inseridas no projeto, inicialmente o número de participantes foi composto por 10 (dez) famílias, sendo que no primeiro encontro compareceram apenas 6(seis), e no decorrer dos encontros o número de famílias passou por alterações, sendo que foram incluídas 2(duas) famílias e outras não participaram de todos os encontros.

No grupo  são trabalhados temas trazidos pelos próprios participantes, visando uma integração entre os mesmos, uma troca de experiências, onde é possível perceber que o problema do outro pode ser o mesmo seu, ocorrendo desta forma a identificação e um melhor entendimento por parte de todos os participantes,  são aplicadas dinâmicas e outras atividades pertinentes, no sentido de reconhecer as necessidades das famílias e buscar a promoção de um ambiente onde as mesmas possam socializar e internalizar as relações e comportamentos saudáveis em sociedade.

Buscando a integração familiar, percebemos a necessidade de reunir em alguns encontros o Grupo de Pais e o Grupo de Crianças onde foi possível observar a relação entre eles, como interagem, as mudanças que ocorrem no comportamento de pais e filhos quando inseridos no mesmo grupo, as diferenças entre o que é trazido pelos pais e pelos filhos, e, principalmente promover a união e a oportunidade de convivência entre os mesmos, sendo que na maioria dos casos, os pais não possuem um tempo para dedicar a seus filhos em suas residências. O Grupo de Pais teve início no dia 14 de março de 2018, totalizando dez encontros, sendo o encerramento no dia 27 de junho de 2018, no término do semestre.

Discussão

Constatamos a extrema relevância na organização dos grupos terapêuticos, dada as observações realizadas, é possível verificar as mudanças ocorridas no decorrer de cada encontro, o quanto os participantes conseguem interagir e trocar experiências, buscando auxiliar um ao outro.

A evolução crescente da tecnologia realiza-se graças à criatividade do homem, desenvolvendo novas ideias, propostas, modificações e adaptações. Muitas delas ocorrem pela intuição e, outras, premidas pelas necessidades. Nas duas condições, parte delas é testada em experimentos antes de ser aplicada, enquanto outras são adotadas empiricamente. (Bechelli; Santos, 2004)

Precisamos estar atentos para cada detalhe que ocorre em cada encontro, é necessário produzir dúvidas nos participantes, leva-los a pensar se o que fazem é o mesmo que o outro, se é possível mudar as táticas e tirar consequências positivas dessa troca que ocorre entre eles. Levar o sujeito a pensar, tirar suas certezas, fazê-lo hesitar antes de agir, excesso de certeza leva a respostas muito pragmáticas, definitivas, produzindo de certa forma um aspecto de violência contra o outro.

Para Osorio, Valle (2011) família não se conceitua ou define, mas apenas se descreve, tantas são as estruturas e modalidades assumidas pela família ao longo dos tempos. Cada cultura prevalente em um determinado momento evolutivo da humanidade nos ofereceu sua concepção singular da constituição família.

Aprender é um ato que está em constante transformação, a cada ano ocorrem mudanças significativas, tanto nas famílias quanto no meio social em que estamos inseridos e precisamos estar atentos e acompanhar essas mudanças. De acordo com Kastrup (2001) a relação ensino-aprendizagem depende de um mestre que não se furte de sua condição de aprendiz, o que é uma questão de política cognitiva. O plano de sintonia mestre-aprendiz é um campo de criação, uma zona de vizinhança, um espaço híbrido. O mecanismo não é de identificação, mas de contágio e propagação.

Yalon; Leszcz (2006) considera o foco interacional como o motor da psicoterapia e, acima das teoria e técnicas do terapeuta, suas atitudes de escuta, interesse, aceitação e empatia com o paciente, enfatizando também a necessidade de desfazer a autoimagem negativa deste. Especifica também que psicoterapias com um mesmo enfoque doutrinário, se malconduzidas, produzem poucos resultados, enquanto outras, com enfoques diferentes, realizadas de modo correto, obtém resultados satisfatórios e similares. Salienta assim, a importância da formação do terapeuta e a utilização adequada do método, independentemente da ideologia ou filiação doutrinária.

No grupo terapêutico, Bion não estabelecia nenhuma regra de procedimento e não adiantava qualquer agenda. Ele procurava convencer “grupos de doentes a aceitar como tarefa o estudo de suas tensões.” (Sampaio, 2002)

Um dos desafios atuais para aquele que que se interessam pelos estudos das interações entre pais e filhos, produzem tecnologia comportamental, ou atuam em contexto clinico, é a consideração dos efeitos imediatos e/ou acumulativos das variáveis contextuais. Todas as famílias estão sujeitas a enfrentarem adversidades em diferentes momentos, podendo gerar consequências pífias em curto prazo. (Silveira, 2011)

A relação que deve ser estabelecida é de confiança entre pais e filhos, sendo que estes sabem que podem errar e terão oportunidade para refletir sem que isso represente um fracasso. Quando os indivíduos acertam e são elogiados, aprendem a elogiar e reconhecer os esforços dos outros, pois seus esforços foram reconhecidos. (Patias; Siqueira; Dias, 2013)

Compreendemos que criar um programa de intervenção junto aos responsáveis que muitas vezes foram criados sob punição física pode ser bastante desafiador, mas abrir espaço para o diálogo entre o grupo e os profissionais da área trará reflexões acerca das consequências das punições físicas, contribuindo também para estratégias mais eficazes para a criação e interação com os filhos, permitindo desta forma uma nova visão para esses cuidadores, no intuito de ampliar os benefícios de convivência e socialização em todos os meios sociais.

Considerações Finais

Percebemos a importância de trabalhos realizados em grupos, o quanto a troca de experiências auxilia as famílias para que ocorra um melhor entendimento de suas dificuldades, de seus medos e de suas dúvidas. A interação e a confiança entre familiares e coordenadores tornam o grupo mais unido e a troca se torna mais produtiva.

Observamos também que os pais mesmo quando acreditam estar errando em seus procedimentos, estão sempre tentando acertar na educação e no bem-estar dos filhos, o que falta na maioria das vezes são informações e auxilio para que essas famílias tenham uma melhor compreensão sobre o que ocorre no convívio familiar e social. Contribuir para o bem-estar psicológico dos sujeitos constitui um trabalho de grande relevância social, evitando muitas vezes que o problema se agrave e que o sujeito venha a necessitar de um auxilio mais demorado e com custos maiores. Torna as famílias mais unidas, tranquilas e seguras em relação aos procedimentos realizados, beneficiando desta forma a todos, tanto nas relações com a escola, quanto com a família e o meio social.

Destacamos a importância da união dos dois grupos, o que possibilitou uma observação mais integral, constatou-se que nem sempre os pontos de vista são iguais, que é necessário que ocorra uma interação entre crianças e responsáveis, auxiliando desta forma a melhora do convívio familiar.

Conseguimos perceber o quanto foi importante para essas famílias este tempo em que foi puderam brincar, realizar dinâmicas, interagir com os filhos sem ter nenhuma outra atividade ao lado esperando para ser realizada, foi um tempo onde foi possível dedicar toda a atenção ao outro, sem que houvesse nenhum tipo de interrupção.

Este trabalho foi uma experiência extremamente importante, conseguimos entender o funcionamento de um grupo, crescemos junto com todos, aprendemos e também auxiliamos, levando dinâmicas, estudos, relatos e experiências tanto pessoais quanto literárias. Buscamos em livros, artigos e orientações a maneira mais eficaz de auxiliar essas famílias para que esta experiência pudesse trazer muitos benefícios para a relação familiar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

OSORIO, Luiz Carlos; VALLE, Maria Elizabeth Pascual e colaboradores– Manual de Terapia Familiar II – Artmed, 2011

BECHELLI, Luiz Paulo de C.; SANTOS, Manuel Antônio dos – Psicoterapia de Grupo: Como Surgiu e Evoluiu – Rev Latino – am Enfermagem, abr./mar.2004

KASTRUP, Virginia – Aprendizagem, Arte e Invenção – Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 1, p. 17 – 27, jan./jun. 2001

PELUSO, Érica de Toledo Piza; BARUZZI, Márcia; BLAY, Sérgio Luís – A experiência de usuários do serviço público em psicoterapia de grupo: estudo qualitativo –Rev Saúde Pública 2001; 35(4):341-8

SILVA, Alessandra Turini Bolsoni – Intervenção em grupo de pais: descrição de procedimento – Temas em Psicologia v.15 n.2 Ribeirão Preto dez. 2007

PARDO, Maria Benedita Lima; CARVALHO, Margarida Maria Silveira Britto de – Grupos de orientação de pais: estratégias para intervenção – Contextos Clínicos vol.5 n.2 São Leopoldo dez. 2012

YALON, Irvin D,; LESZCZ, Molyn – Psicoterapia de Grupo: Teoria e Arte – Editora ARTMED, Porto Alegre, 2006

SILVEIRA, Ferraz Fabiane – Intervenções com pais: da alteração das práticas educativas parentais à inclusão de variáveis e contexto – Estudos de Psicologia, Universidade Federal de São Carlos, 16 (3), set./dez. 2011

PATIAS, Naiana Dapieve; SIQUEIRA, Aline Cardoso; DIAS, Ana Cristina Garcia – Práticas educativas e intervenção com pais: a educação como proteção ao desenvolvimento dos filhos – Mudanças – Psicologia da Saúde, 21 (1), jan./jun. 2013, 29-04p

SAMPAIO, Jader dos Reis – A “DINÂMICA DE GRUPOS” DE BION E AS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO – Psicologia USP – Universidade Federal de Minas Gerais – vol.13, n.2, 277-291, 2002


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