Última alteração: 10-09-2018
Resumo
A violência doméstica é considerada pela OMS (2014) como um problema de saúde pública, que deve ser alvo de ações de enfrentamento mais efetivas, principalmente no que tange a violência contra a mulher. O número de mulheres que se identifica como vítimas de violência subiu de 18%, em 2015 para 29%, em 2017 (DATASENADO, 2017). Diante disso, propôs-se realizar uma intervenção com casais intimados pelo Foro da Comarca de Canoas a participarem de um grupo reflexivo. O objetivo desse trabalho é apresentar um relato de experiência da intervenção realizada pelo Serviço Social do Foro da Comarca de Canoas, em parceria com o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência, no primeiro semestre de 2018. Foram realizados 12 encontros semanais, com duração de uma hora e meia, no período de fevereiro a maio de 2018, conduzidas por uma assistente social do Foro e dois estagiários, uma graduanda do curso de Psicologia vinculada ao NAVIV e um graduando do Serviço Social. A intervenção foi estruturada em grupo operativo, do tipo reflexivo, que se caracteriza por seu viés pedagógico (ZIMERMAN, 2000). Os casais que participam, são intimados após informarem em audiência a reconciliação e a manifestação do desejo da vítima retirar a queixa de violência doméstica. O grupo começou com 6 casais, mas 2 saíram após separação. Durante as intervenções, foram abordados temas relacionados à violência doméstica, papéis de gênero, resolução de conflito, comunicação não-violenta, transgeracionalidade, ciúmes e a lei 11.340/06. Os casais, principalmente os homens, iniciaram com certa resistência pela participação, demonstrando maior adesão ao longo do período de intervenção, identificando aspectos que contribuíram para a dinâmica relacional violenta, além de apresentarem condutas mais assertivas na resolução de problemas. Esse tipo de intervenção proporciona um espaço de reflexão acerca da dinâmica relacional violenta, dos padrões cristalizados de ideologia de gênero e desconstrução da culpabilização e vítimização dicotômica (NORONHA, 2013). Apesar de um tema de alta relevância, uma das dificuldades em se estruturar uma intervenção como essa se dá pela escassez de pesquisas e intervenções sobre o tema, geralmente direcionada a uma das partes.